sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Lá em Itanhaém, na Biblioteca Paulo Bonfim...

ilust. Maria Eugênia
...


A última cidade do roteiro. Muito surpreendente!! Adultos, crianças e adolescentes. O trabalho da coordenadora  da Biblioteca Paulo Bonfim, Mara Léia de Lima e sua animada equipe, foi visível.   Encontrei todos meus livros ali e, o melhor... lidos.
Foi muito evidente perceber o  quanto as crianças e adolescentes de lá eram super leitores. Cheios de referências de histórias: " Acabei de ler As vinte mil léguas submarinas" , disse uma menina de olhos muito espertos. E difícil foi coordenar tanta criança querendo contar seus livros lidos. Uma outra menina narrou todo o "Couro de Piolho" que estava no meu "Almanaque dos Sentidos" e que reescrevi a partir do texto de  Câmara Cascudo. "Câmara Cascudo?" Estranharam as crianças... "Ele mesmo, que recolheu tantas histórias populares brasileiras", contei. "Ah! hum!" e risos das crianças que agora sabiam da existência do nosso Cascudo.
E, seguindo o ritmo acelerado  do encontro, apresentei mais histórias do Almanaque e eles quiseram que eu contasse a aventura de Perseu e Medusa. Lá fomos nós para a morada das Górgonas. E ao terminar de contar, as crianças já sabiam que essa narrativa fazia parte da mitologia Grega. Neste momento, um garoto pediu o microfone e, ali, ao meu lado, fez uma pergunta aos leitores: "E vocês sabem como surgiu a Medusa?". Uau! Nem precisei interferir, muitos já foram falando. O garoto completava com sua versão lida e, assim, a Medusa foi mais do que "refletida"...
Uma hora me passaram um bilhete "quando você quiser encerrar, fique à vontade". Eu não queria, mas a volta para São Paulo com o motorista, Aurino, que me acompanhava em todas as cidades e bibliotecas, seria tensa, já que o engarrafamento com os trezentos carros,  na Imigrantes, tinha acontecido um dia antes. E enfim, meninos me trouxeram um livro pra lá de criativo. Um livro de presente, feito por eles,  sobre os cinco sentidos. Lindo, cheio de colagens provocando mil sensações. 
O que posso dizer mais? 
Fiquei muito feliz.

E me pergunto:  "Que  traçados novos criamos em nós, nos encontros nas bibliotecas, nesta Viagem Literária, neste novo mapa, nesta cartografia do imaginário?





Eldorado

ilust. Maria Eugênia

E, seguindo o roteiro da Viagem Literária cheguei em  Eldorado, a cidade da belíssima caverna do diabo.
O centro cultural da cidade é um espaço bonito com salas para exposições, biblioteca e auditório. A cidade tinha acabado de sofrer uma inundação. Pude ver as marcas deixadas pela água nas paredes das casas.
Bem, o encontro com os adolescente foi tranquilo. Eles, no começo,  muito quietos, atentos.
A conversa surgiu a partir da leitura da história do Simbad, o Marujo, que reconto no livro "Almanaque dos Sentidos". O Simbad, partiu por mares e aventuras. Nós também.
O  papo seguiu para "As Mil e uma Noites, livro fonte para  muitas narrativas. Surpresa dos jovens quando souberam que as viagens de Simbad  faziam parte deste livro milenar. Gostei de enveredar por este caminho dos textos que são fontes e referências  para muitas histórias. Ou da intertextualidade... da literatura que se faz da literatura...
Depois de muito ouvirem, uma jovenzinha contou que estava escrevendo um livro. Uma história inspirada num sonho que ela teve. "uma menina que se salva de um naufrágio e que chega num vilarejo..." . Aliás, ela disse que gostaria de publicar aqui, nos comentários,  um trechinho. Fique à vontade, (e não repare se não lembro seu nome), lembro muito de você e do seu desejo de escrever.
E num clima muito bacana,  os jovens,  umas simpáticas professoras e o coordenador do espaço cultural  davam suas opiniões sobre livros. O encontro terminou lá fora, numa arena, onde tiramos muitas fotos.

Não pude visitar a caverna do diabo. Mas puxei da lembrança uma visita que fiz há muitos anos. Os salões cheios de estalactites e estalagmites. Com formas tão surpreendentes...

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Cananéia

Ilustr. Maria Eugênia

O Luiz  Antônio, responsável pela Biblioteca Municipal de Cananéia, e a Jaqueline na porta da biblioteca.
As crianças e adolescentes no maior zumzumzum... Cheguei um pouquinho atrasada, entrei correndo. Cerca de 200 pessoas estavam ali na pequena, mas bem aconchegante biblioteca. Em volta de todos nós, os livros. Quietos. Quietos?  Talvez numa "silenciosa algazarra",  citando o titulo da publicação de ensaios sobre livros e leitura, de  Ana Maria Machado, chamado "Silenciosa Algazarra".
As crianças, muito participativas, ouviram atentas o primeiro poema que li sobre uma terrível bruxa ( do meu livro "Poemas para Assombrar). "Meia noite, escuridão./ Sopra o vento,/ escura sombra,/fio de voz,/ bizarro som (...)". E, provocando certos arrepios e trazendo a noite misteriosa para aquela sala clara, o encontro seguiu num ritmo intenso,  mas com muita concentração. As crianças levantavam as mãos e iam contando enredos de histórias e personagens preferidos. Até que uma turma grande precisou ir embora porque a escola era muito longe. Daí, ficaram umas 30 crianças, nem tão crianças assim. E o papo foi mais fundo, falamos sobre a relação que a gente vai estabelecendo com a leitura. Quando perguntei o que era um texto bom,  uma menina, ( pena não lembro o nome dela), mas, bem, uma menina, já com seus 13 anos, disse que gostou muito de um texto, da Ana Maria Machado, que narrava a história  de duas primas, muito amigas, apaixonadas por um mesmo menino. E eu perguntei para a garota: E por que o texto é bom? E ela, pensando bastante, disse: acho que a autora sempre dá muitos detalhes...  Eu completei que as boas narrativas apresentam, constroem personagens e enredos que parecem tão reais, tão próximos de nós leitores. Narrativas que quase respiram.... E essa qualidade se dá justamente pela  forma como o texto é realizado, "do como", não apenas do "O que".
E, assim, seguiu  o papo com muitos momentos de silêncio. Pelo que percebi, os leitores, ali, não queriam ir embora. Nem eu.  Mas era tarde. Hora da despedida. Foram-se todos.
Para minha surpresa, na sala ao lado... um delicioso café com bolo . Começaram outras histórias. Lendas e mitos da região apareciam na voz do Jamilson, que gosta muito de poesia, e, inclusive fez uma sobre o nosso encontro que  tinha acabado de acontecer na biblioteca. Sai de lá, sabendo de como enfrentar uma onça no escuro, e que jacaré pia...

A estrada foi mansa, tranquila, cercada de mata e bananeiras.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ilha Comprida


Ilust. Maria Eugênia

Era uma vez uma ilha comprida, que visitei há muitos e muitos anos atrás. Naquela época, o trabalho era visitar hotéis, restaurantes e atrações turísticas. Recém formada, e trabalhando no Guia 4 Rodas, explorava estradas, encontrava e ... desencontrava cidades. Meu roteiro: litoral sul de São Paulo. 
Mês passado, quando recebi o roteiro da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, pelo projeto Viagem Literária, tive uma surpresa: algumas cidades eram as mesmas do meu primeiro percurso.

15 anos se passaram...

E, agora, um outro jeito de conhecer um território: pelos seus leitores. Ilha Comprida surpreendeu pelo super interesse dos jovens, apesar de a Bia, uma menina atenta, sentada na primeira fila, começar dizendo que ninguém mais queria ler, já que eles gostavam mesmo era do Facebook e Orkut.  Ótimo comentário para o começo da conversa sobre meios, linguagens e gêneros. O papo durou duas horas, os adolescentes e jovens começaram a revelar suas preferências de leitura e até mesmo, um desejo de escrever.  No final do encontro, uma jovenzinha, alta e de cabelos encaracolados, veio me mostrar poemas em seu caderno. Aliás, ela disse que iria postar um texto por aqui. Estou esperando.

Enfim:

O número é 1000, de uma longa avenida.

E é nele que mora a biblioteca. 

O bibliotecário é o Emerson (Gryllo).

Da Ilha Comprida. Ampla e aberta. 

Como seus moradores.  

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Até uns pássaros voltaram para cá....

ilust. Maria Eugênia


Cláudia disse que tinha muitos desejos quando lembrou da Bolsa Amarela, da Lygia Bojunga.

E Camila ouviu o barulho das ondas do mar, num antigo poema que fiz.

Todos riram das baratas do mar.

E do pé impresso na página do livro.

Riram do "Erro de Português",  de Oswald de Andrade.

Sete cadáveres se levantaram em " Incidente em Antares", do Érico Veríssimo. Quem contou foi a Thais.

A Cláudia disse que ler era um desvio.

Cubatão não é mais tão poluído. Assim disseram.

Os meninos de 15 anos olhavam os relógios.

Li  "Relógio" do Oswald. "As horas vão e vem..."

Mas os meninos queriam ir.

Cubatão não é mais o vale da morte,  disseram.

E foram todos.

Até uns pássaros voltaram para cá.


(Cubatão, Viagem Literária 2011).

sábado, 10 de setembro de 2011

Cubatão, ostras, cavernas, mar e literatura...


Preparo textos e levo muitos livros para encontrar adolescentes e jovens, na Viagem Literária 2011, que acontece na próxima semana.




segunda-feira, 5 de setembro de 2011