terça-feira, 17 de abril de 2012

Biografia de Ana Maria Machado



“(...) E, em meio a tanta algazarra, nesse lugar quase mágico, que era Manguinhos, com uma casa tão aconchegante que mais parecia uma grande galinha que guarda bem seus pintinhos, Ana descobria coisas do mar, do vento e das estrelas. Para onde girasse sua curiosidade, encontrava as mais interessantes explicações. O avô Ceciliano levava os netos todos para andar na praia à noite. E explicava o céu:

– Aquela constelação é a de escorpião – dizia.

– Onde, vô?

– Lá – e indicava com o dedo o céu, que parecia tão morno e tão misterioso naquelas noites escuras. (...)”



Dia 22 de abril, lançamento no Rio de Janeiro, no Salão da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil). 18 horas. Na Biblioteca FNLIJ-PETROBRAS PARA CRIANÇAS.


Quem quiser acompanhar a programação da feira, é só clicar aqui:
http://www.salaofnlij.com.br/salaofnlij/diaadia.asp

domingo, 15 de abril de 2012

Enredos Possíveis III

Na grande mesa do Sesc Belenzinho, lá estava o "baralho de pinturas". Agora, era a hora de  inventar uma história a partir da sequência de imagens. Primeiro, fizemos uma narrativa coletiva que deveria surgir da surpresa das figuras que eram descartadas na mesa. Depois, cada um escolheu três pinturas e assim inventou uma história. A Silvana fez um texto bem sinestésico, já  Moacyr criou um pensamento a partir da relação das três imagens.


Ancient sound, Abstrat on black, 1925. Paul Klee
Fachada com Calha. Alfredo Volpi
A Ventania, 1915. Anita Malfatti


Operários, 1933. Tarsila do Amaral

Sem título, 1972, Mira Schendel
Campo de trigo, Van Gogh



Texto integral de Moacyr Massulo

"A cidade cinzenta e fumaçada, recheada de pessoas que correm para cumprir os horários. No meio da multidão as palavras perdem seus significados enquanto são carregadas pelo vento. No campo, o silêncio e a calmaria predominam, valorizando cada frase dita, tecendo assim, a evolução da comunicação.
Viver é raro e esta raridade é encontrada no campo. Na cidade as pessoas apenas existem"



quarta-feira, 11 de abril de 2012

Enredos possíveis II

A segunda imagem apresentada para os participantes da Oficina de criação de texto, do Sesc Belenzinho, foi a pintura de Van Gogh. De quem são estes sapatos? Para Evelyn os próprios sapatos se tornaram os personagens de sua narrativa. Cristiana calça os sapatos em Jônatá, como veremos a seguir. 


Sapatos,1888. Van Gogh





 Trecho do texto de Cristiana Neri. "O garoto dos sapatos velhos"



" Garoto pobre e muito querido aquele, de sorriso grande e conhecido na vila como “Jô”. Seu nome é Jônatá, escrito assim, errado mesmo, uma tentativa falha da mãe em deixar para o filho ao menos um nome sofisticado, já que a família carregava a pobreza desde todas as gerações anteriores de que tinham conhecimento. A mãe não sabia escrever o nome que ouviu na TV, e levou ao cartório um papel com a tentativa de reproduzir aquela palavra com “jeito de riqueza”, como assim julgava. 
Os calçados de Jô, assim como suas roupas, sempre foram adquiridas em doações. Ele adorava jogar futebol com os colegas, mas seus sapatos eram o único par de calçados que ele possuía naquele momento da vida, e para não correr o risco de estragá-los, precisava tirá-los dos pés antes das partidas vespertinas diárias do tão querido esporte."


Texto integral de Evelyn Pereira, Sapatos abandonados

 Estavam lá abandonados, sozinhos, quase chorando, um par de sapatos, um consolando o outro.

O sapato esquerdo esquerdo perguntou:
- Por que será que ele nos abandonou? Será que estávamos tão feios? Sem graxa? Sujos?
O sapato do pé direito respondeu:
- Não.... é porque você estava com um furo bem no meio da sola. E ele ficou cansado de tanto furar o pé de meia. Tenho certeza que foi por isso.
O sapatos do pé esquerdo respondeu:
-Ah... Sempre eu... Sempre eu...

Enquanto os  sapatos discutiam não perceberam que foi chegando bem próximo a eles, um rapaz descalço.
Foi chegando, chegando e de repente calçou os sapatos.
Ficou tão feliz que saiu correndo e pulando.
Correu, correu até perto de outro rapaz e disse rapidamente:
- Cara, olha o que eu achei!  Olhando para  seus próprios pés.
- Um par de sapatos.  E tem um detalhe, está com um furo bem onde eu tenho um calo. Não é maravilhoso! Assim não irá doer quando eu caminhar.
Imediatamente ouviu-se um grande e profundo suspiro. Era do pé esquerdo. Todo Feliz da vida.  Nesse momento ele se sentiu muito importante.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Enredos possíveis

Um dia, lendo "O castelo dos destinos cruzados", de Italo Calvino, fiquei  impressionada com o jogo que ele propunha ao leitor: múltiplas histórias que se desenvolviam a partir de cartas de tarô. Imagine pessoas que entram numa taberna e por algum motivo fantástico perdem a capacidade de falar, e assim, para contar aos outros suas aventuras e desventuras utilizam as intrigantes figuras do tarô. Ao serem dispostas de maneira sequencial,  numa grande mesa, narram uma história. Faz muito tempo que li este livro. Inesquecível.  Os anos passaram, comecei a trabalhar com pessoas que desejam escrever e, há seis anos, tenho uma oficina de escrita. Instigar a produção de textos a partir de imagens sempre foi uma experiência surpreendente. No curso que tive o prazer de coordenar, no mês de março, no Sesc Belenzinho,  foram pinturas de grandes artistas que  despertaram os simpáticos participantes para o desenvolvimento de personagens e enredos. Imprimi as pinturas em tamanho A4 e "brincamos" que poderia ser  um grande baralho, não estávamos numa taberna, mas a grande mesa estava ali. Na primeira aula, trabalhamos apenas com uma imagem de cada vez.  E neste post, apresento a pintura de Chagall e pequenos trechos das narrativas desenvolvidas durante a aula.  Não sugeri nenhum gênero específico, mas as duas histórias,  a seguir, da Isabel e Laís, apontam para o fantástico e o maravilhoso. O próximo post terá outros trechos que estou recebendo, aos poucos, dos participantes da oficina do Sesc.

Portrait de Vava, 1966. Marc Chagall

Trechos de "O Segredo da Estrangeira", de Maria Isabel Porazza Mendes.

"(...)   Havia algo de especial em seu rosto: tranquilo, terno, ligeiramente colorido. Muitos buscavam conselhos quando iam à sua casa, mas na verdade, o que queriam mesmo era vê-la falar. Greenalda não era deste país. Usava palavras diferentes, engraçadas aos ouvidos dos moradores daquele vilarejo. Seu vestuário, no entanto era admirado por todos: elegante, sofisticado, mas também inadequado, pois o calor que fazia por aquelas bandas não comportava a gola de pele de carneiro que ela trazia sempre em torno de seu pescoço.(...)"

"(...) Greenalda chorava e não compreendia nada. Tentava refazer o diálogo que teve com a sra. Thompson naquela tarde e pegava o chapéu, colocava-o sobre a mesa para observá-lo, girava para todos os lados buscando um defeito, uma costura mal feita, um detalhe que pudesse justificar todo aquele pesadelo em que se transformou seu trabalho. As encomendas iam se rarefazendo e ela manuseava o chapéu incessantemente. Olhava-o de longe, de perto, sobre a mesa, no chão, colocava-o no manequin, refazia as medidas, olhava as fitas de gorgurão que utilizou para arrematar a aba e... nada. O chapéu não tinha nada de errado. Até que um dia, já desanimada e sem saber o que fazer, pois os trabalhos estavam minguando a passos largos, Greenalda colocou a chapéu em sua própria cabeça. Não gostava de experimentar os chapéus de suas clientes, mas este já havia sido recusado, estava ali, devolvido de forma tão incompreensível, e ela pensou em vesti-lo como uma última tentativa de encontrar o motivo de todos aqueles fatos.
Ao fazer isso, Greenalda teve a nítida sensação de estar voando. Sua cabeça girou para um lado e para outro como um pião de moleque e sem mais nenhum sentido de direção, caiu no assoalho duro, ficando por alguns instantes nessa posição. Com o chapéu ainda em sua cabeça, e um pouco menos tonta, a chapeleira conseguiu enxergar cenas que corriam como um rolo de filme acelerado no aparelho de exibição. Eram pessoas, lugares diferentes, alguns conhecidos, cenas que pareciam visões. Assustada com isso, Greenalda arrancou o chapéu de sua cabeça e aí pode compreender o que provocou tamanho pavor na sra. Thompson. (...)"








sábado, 7 de abril de 2012